Translate

Planeta Sustentável

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O RESULTADO DA PROVA DE REDAÇÃO DO ENEN 2014 E AS CONSEQUÊNCIAS PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA

(Foto: Reprodução/TV Globo




 MARIA INEZ RODRIGUES PEREIRA




O resultado da prova de redação do Enen 2014, com quinhentos e vinte e nove mil alunos zerando na redação, ou seja, 8,5% do total de candidatos participantes, de acordo com o Inep, retrata uma triste realidade na educação de nosso país. Infelizmente, estamos formando uma geração de indivíduos que não sabem ler, escrever, pensar por si só, opinar...,ou seja, uma geração alienada. Além desses estudantes que zeraram na prova de redação outros duzentos e quarenta e oito mil estudantes tiveram suas redações anuladas, porque fugiram ao tema proposto. No entanto, a culpa não é apenas dos professores, mas é consequência de uma série de fatores que têm contribuído para essa situação.

Já dizia Suchodolski(1976) em análise aos textos de Marx sobre ideologia que “[...]a educação é um instrumento de fortalecimento do poder de classes na sociedade classista, porque propaga uma ideologia adequada a ele”. E isso ficou evidente com o resultado do Enen, confirmando a teoria de Suchodolski de que nossa educação ( ou nossas escolas) está trabalhando a favor de uma classe dominante que deseja se manter no poder, impedindo que a educação de qualidade seja ofertada a todos.  Esse resultado  da prova de redação, só demonstrou o quanto nossos jovens estudantes estão sendo alienados por uma educação fracassada, reféns de uma ideologia dominante. 

Infelizmente, as práticas pedagógicas realizadas nas salas de aula, com prevalência apenas ao uso do livro didático, pouco tem levado nossos estudantes a pensarem criticamente os assuntos econômicos, sociais, políticos, históricos, filosóficos e das artes.  Que dirá escrever criticamente sobre um tema (publicidade infantil) do qual nem conhecem ou tenham ouvido falar.

De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica é de competência (ou função, como queiram alguns) da escola dar condições para que o aluno aprenda e possa se desenvolver plenamente. Entretanto, aprender requer sacrifícios que exigirão do estudante e, também, do professor, muita leitura, muita escrita, muito “estudo”, muita pesquisa. E hoje, esses sacrifícios estão sendo substituídos pela informação rápida e sem muito esforço,  dando apenas um clic na internet.

Indiscutivelmente uma condição que está contribuindo muito para esses resultados é a formação de professores, quase sempre muito falha. De acordo com o educador Saviani(2008) os cursos de formação de docentes que não articulam teoria e prática a partir da pedagogia histórico-crítica, com base no materialismo dialético, não terá condições de intervir no objeto de ensino de modo intencional. Ou seja, para o autor “se um curso é teórico, não é prático, e, se é prático, não é teórico”. Desse modo, o objetivo da educação que é instrumentalizar o aluno para que este desenvolva a capacidade de ler, compreender e transformar a realidade na qual está inserido, acaba sendo prejudicado pela má formação do professor.

A formação docente no Brasil ainda é muito deficitária, pois não prepara o professor para ser pesquisador e produzir novos conhecimentos, mas sim para reproduzir conceitos e conteúdos que em nada ou quase nada contribuem para a transformação intelectual e social do sujeito que aprende.  Há de se reconhecer que muitos são os desafios que impedem o avanço educacional da população brasileira. E um deles, o qual eu considero preocupante, é a falta de investimento na qualidade do trabalho pedagógico. Essa qualidade está associada à valorização do professor com salários mais dignos, com formação adequada e satisfatórias, com melhorias nas condições de trabalho na rede escolar ( que em alguns lugares é precária),com equipamentos que realmente funcionem e que sejam necessários ao ensino. Enquanto esses investimentos não forem aplicados adequadamente (sem desvios) nas escolas e na educação, continuaremos assistindo esses resultados tristes e humilhantes para o nosso país.

Uma nação não se desenvolve completamente sem uma boa educação. Basta olhar em volta e verificar os avanços obtidos pelos países mais desenvolvidos do mundo. Com certeza, a prioridade desses países foi, sem dúvida, a educação.

A luz amarela de alerta, já está acesa há um bom tempo. E essa aparente consequência de uma educação que está na linha da falência, precisa urgentemente de mudança. É preciso reconhecer que nossa educação não pode ficar atrelada apenas a força do capital. Formar cidadãos para as exigências do mercado é um grande erro, pois obriga a escola a cair no pragmatismo imediatista e irracionalista de formar pessoas para o mercado de trabalho e não para sua humanização integral. Esse tipo de pedagogia está levando ao empobrecimento dos conteúdos curriculares, bem como a secundarização do papel do educador  tendo como consequência os resultados absurdos na prova de redação do Enen, bem como no resultado de outras avaliações, tanto internas como externas, nas escolas de todo Brasil.
A mudança de paradigma metodológico começa na própria sala de aula, a partir do compromisso do professor com a formação de seu aluno seja ele quem for, independentemente de recursos financeiros, didático-pedagógicos, tecnológicos ou de infraestrutura.

O fato é que, a escolha por uma educação alienante ou revolucionária estará sempre nas mãos do professor. É o professor quem decide se quer um aluno consciente e crítico ou alienado e passivo.

Suchodlski (1976) já alertava em seus escritos que

A educação nas mãos da classe dominante é uma arma, um dos meios mais importantes para conservar o seu domínio e impedir o seu derrube, mantendo a psique humana livre de todas as influências que surgem pela transformação das forças produtivas. Nesse sentido, a educação apresenta-se como influência destinada a defender os interesses da ordem decadente em franca contradição com a educação que se concebe como verdadeiro processo de formação de novos homens no desenvolvimento histórico das forças produtivas. No primeiro caso, a educação é um instrumento de opressão de classe, no segundo, pelo contrário, um elemento de autoprodução dos homens no decurso do seu trabalho produtivo histórico. A contradição entre ambas as formas de educação reflete a oposição existente na história entre o desenvolvimento revolucionário e criador das forças produtivas e a força retardadora das relações de produção. Essa contradição é particularmente aguda na época do capitalismo. (1976, p.95)

Portanto, o trabalho pedagógico, bem organizado e planejado pelo professor, pode contribuir para uma educação emancipadora e revolucionária que ajude o estudante a formar consciência crítica sobre tudo, ou simplesmente, contribuir para a sustentação e legitimação de uma situação opressora e de exclusão social.

Os quinhentos e vinte e oito mil estudantes que obtiveram nota zero (0,0) na redação do Enen 2014, com certeza estão inclusos na segunda opção.

Para muitos especialistas, isso é apenas consequência de um ensino falho e sem perspectivas. Para nós educadores compromissados com uma educação de qualidade, é um desastre que mancha nossa alma e fere nosso coração.


REFERÊNCIAS


DUARTE, Newton(org.) Critica ao fetichismo da individualidade. 2.ed.rev.-Campinas SP: Autores Associados, 2012











Nenhum comentário:

Postar um comentário

filmes

  • A casa do lago
  • A filha do presidente
  • Amizade Colorida
  • Antes que termine o dia
  • Cavalo de Guerra
  • Conversando com Deus
  • Diamante de Sangue
  • Gladiador
  • Imagine eu e você
  • Meu nome é Radio
  • O diabo veste prada
  • O pacto
  • Titanic
  • Uma linda mulher
  • uma lição de amor