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AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA E A HISTÓRIA DE PATRÍCIA
Maria Inez Rodrigues Pereira
A cena da aluna Patrícia
recebendo a notícia de sua aprovação no final daquele ano letivo não me sai
mais da memória. Por ser uma adolescente que apresentava muitas dificuldades,
inclusive de socialização, foi por diversas vezes classificada como “sem
solução”, por alguns professores. Durante os Conselhos de Classe diziam que não
adiantava insistir com ela. Que além de apresentar-se nas aulas sem os cuidados
básicos de higiene com o seu corpo, cadernos malcuidados e sem os conteúdos em
dia, questionavam os professores, de que forma ela iria estudar e aprender como os outros alunos?
Passei, então, a estudar seu
comportamento durante as aulas e até mesmo no recreio, e percebi que o que mais
a incomodava era a indiferença e o desprezo dos colegas para com ela, bem como
seu sentimento de inferioridade.
Em uma das reuniões de pais conversei com a mãe de Patrícia e
descobri que o que ela mais ouvia em sua casa era, que por ser pobre, não
poderia chegar a lugar algum. Fiquei preocupada com o que tinha ouvido e resolvi conversar com a aluna. Nessa conversa expliquei-lhe
que se tratava de uma adolescente muito
linda e que estava apenas precisando de alguns cuidados com a aparência. Jamais
esquecerei o sorriso que esboçou quando a chamei de linda.
Depois dessa conversa com a
aluna, resolvi conversar com os professores
dela e pedi para eles que a colocassem na carteira da frente, da fila onde ela
se sentava. Pedi também que se aproximassem um pouco mais dela, pois estava com
muita baixa estima, por isso precisávamos ajuda-la a superar esse sentimento
para que ela despertasse o interesse pelos estudos.
Os professores, ao
analisarem seu histórico de vida, mudaram a maneira de trata-la, bem como
encaminharam Patrícia para a Sala de Recurso por seis meses, para que ela pudesse superar as dificuldades de leitura e escrita que
apresentava. Ficaram surpresos com os avanços de Patrícia naquele
ano e nos outros que se seguiram. Hoje, patrícia está terminando o ensino médio
e nunca mais precisou de Sala de Recursos.
A história de Patrícia nos
mostra que toda criança ou adolescente, se tratado com respeito e carinho, pode
retribuir com mais respeito, carinho e dedicação em suas atividades escolares.
Neste caso em especial, os professores ao mudarem a forma de trabalhar com essa
aluna, possibilitando as oportunidades certas para que ela produzisse o
conhecimento adquirido, obtiveram muitas vitórias nos resultados das avaliações
dessa aluna. Isso os levou também a enxergar com mais carinho e respeito os
outros alunos que apresentavam dificuldades de aprendizagem.
Avaliar nem sempre é tarefa
fácil, porém neste caso, em que a situação social, cultural e emocional impedia Patrícia de
avançar nos estudos, camuflava seu potencial.
Por mais que pensemos estar
preparados para avaliar um aluno, ou vários alunos, muitas vezes nos perdemos em erros de preconceito. A posição de um
professor no exercício de sua docência, não pode ser o de classificar e excluir
quando avalia seus educandos, mas deve ser o de conduzi-los ao raciocínio positivo
da avaliação, orientando esse aluno a descobrir onde errou para poder corrigir seu
erro e mostrar o que entendeu.
Nesse contexto, uma
avaliação para ser positiva requer preparo, fundamentação, planejamento,
organização dos objetivos que pretendemos atingir e, principalmente, um olhar
especial do professor para com a sua turma. A necessidade de se reconhecer as
diferenças na capacidade de aprender dos alunos é uma obrigação do professor
enquanto orientador e avaliador do processo de ensino e aprendizagem.
Como estaria Patrícia se não
tivéssemos conseguido enxergar suas dificuldades e o que precisávamos mudar em
nossa metodologia de ensino para que ela pudesse aprender, atingindo os
objetivos em cada disciplina? Certamente, seria mais uma reprova em sua vida
escolar naquele ano e, provavelmente, teria abandonado a escola.
Assim como Patrícia, existem
muitos outros alunos que estão dispostos a aprender, mas que precisam ser
ajudados a superar seus medos, dificuldades e anseios. Por isso, a avaliação
escolar deve levar em conta os diversos fatores que podem atrapalhar o
desempenho do aluno na hora de realizar uma prova ou atividade avaliativa.
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