Vera Masagão Ribeiro
Os dados sobre o alfabetismo funcional confirmam que a educação básica
é o pilar fundamental para promover a leitura, o acesso à informação,
a cultura e a aprendizagem ao longo de toda a vida. Assim, para
que tenhamos um Brasil com níveis satisfatórios de participação social
e competitividade no mundo globalizado, um primeiro compromisso a
ser reafirmado é com a extensão do ensino fundamental de pelo menos
oito anos a todos os brasileiros, independentemente da faixa etária, com
oferta flexível e diversificada aos jovens e adultos que não puderam realizá-
lo na idade adequada.
É preciso também reconhecer que os resultados da escolarização em
termos de aprendizagem ainda são muito insuficientes e que um eixo
norteador para a melhoria pedagógica na educação básica deve ser o
aprimoramento do trabalho sobre a leitura e a escrita. É preciso superar
a visão de que esse é um problema apenas dos professores alfabetizadores
e dos professores de Português. Grande parte das aprendizagens
escolares depende da capacidade de processar informações escritas,
verbais e numéricas, relacionando-as com imagens, gráficos etc. Todos
os educadores precisam atuar de forma coordenada na promoção dessas
habilidades, contando com referências claras quanto a estratégias e
estágios de progressão desejáveis ao longo do processo, para que os
avanços possam ser monitorados. Com apoio dos gestores, todos os
professores devem agir sistemática e intensivamente no sentido de desenvolver
nos alunos hábitos e procedimentos de leitura para estudo,
lazer e informação, assim como proporcionar o acesso e a manipulação
das fontes: bibliotecas com bons acervos de livros, revistas e jornais,
computador e internet.
Finalmente, é preciso reconhecer que a promoção do alfabetismo
não é tarefa só da escola. Os países que já conseguiram garantir o acesso
universal à educação básica estão conscientes de que é necessário
também que os jovens e adultos encontrem, depois da escolarização,
oportunidades e estímulos para continuar aprendendo e desenvolvendo
as suas habilidades. Os programas de dinamização de bibliotecas
e inclusão digital são fundamentais e devem ser levados a sério pelas
políticas públicas. Para a população empregada, o próprio local de trabalho
pode ser potencializado como espaço de aprendizagem e, nesse
caso, os empresários têm uma participação importante nos compromissos
a ser assumidos. As empresas podem oferecer e incentivar o uso de
acervos de jornais, revistas e livros, assim como de terminais de acesso
à internet para fins de pesquisa, além de ampliar as oportunidades de
participação em programas educativos relacionados ao desenvolvimento
pessoal e profissional dos trabalhadores, dando especial atenção aos
que têm menor qualificação e necessitam de mais apoio para superar a
exclusão cultural.
Vera é doutora em Educação pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, coordenadora e pesquisadora da Orga-
nização Não-Governamental Ação Educativa e coordenadora da pesquisa
INAF (Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional).
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