Resiliência
Maria Inez Rodrigues Pereira
A
dor no peito ainda é muito grande e a tristeza que consome a alma se derrama em
lágrimas pelo meu rosto. Insatisfação,
indignação, revolta, repúdio, nojo, decepção, enfim, sentimentos que não
consigo controlar e que vicejam no meu coração, motivados pelo descontentamento
de ter assistido um déspota avançar sobre professores, sem dó nem piedade,
ferindo-os com bombas, gás lacrimogênio e balas de borracha. Um ato insano e
desmedido que manchou de sangue, para sempre, a história do Paraná.
Haveremos de mudar esse quadro negro?...
Talvez sim, talvez não. Contudo a resiliência nos impulsiona a responder de
forma consistente, em sala de aula, esse grande desafio de educar para a
transformação social. Um motivo a mais
para o fortalecimento do trabalho coletivo dentro das escolas que, muitas
vezes, vejo enfraquecido no dia a dia do nosso trabalho docente. E ser resiliente neste caso é, de acordo com
Tavares(2002), “a capacidade de responder de forma mais consistente aos
desafios e dificuldades, de reagir com flexibilidade e capacidade de recuperação
diante desses desafios e circunstâncias desfavoráveis, tendo uma atitude otimista,
positiva e perseverante e mantendo o equilíbrio dinâmico durante e após os
embates- uma característica de personalidade que, ativada e desenvolvida,
possibilita ao sujeito superar-se e às pressões de seu mundo, desenvolver um
autoconceito realista, autoconfiança e
um senso de autoproteção que não desconsidera a abertura ao novo, à mudança, ao
outro e à realidade subjacente” Nesse contexto, porém, considero de extrema
importância manter o foco de nossos objetivos, ou seja, ensinar para
transformar, mesmo que isso leve algum tempo.
Entretanto, não
podemos nos resignar com as situações de perda ou ganho de alguma coisa, nesse
caso de direitos adquiridos e que nos foram usurpados, mas numa ação resiliente
responder a altura, com a competência de quem sabe educar para a democracia,
para a cidadania, para a política e, conforme defendeu Gramsci (1978), para preparar
a classe trabalhadora para ser dirigente do país. Ser resiliente é ter a capacidade de se recuperar a
partir de choques, ferimentos e traumas, ser resistente para enfrentar os
desafios.
O choro e as
lágrimas que derramamos são a imagem da nossa decepção com o ocorrido, mas não
podem atrapalhar nosso trabalho e muito menos nosso ideal na missão de formar
crianças, jovens e adultos por meio de uma educação de qualidade. Uma educação
que ultrapasse as barreiras do senso comum e conduza o cidadão à síntese do
conhecimento adquirido e incorporado por sua inteligência, fazendo-o capaz de
discernir entre o certo e o errado, entre o ter e o fazer, entre a ignorância e
o saber.
Portanto, o que
nos moverá de agora em diante, muito mais do que antes, é a chance de poder
continuar lutando por uma educação de qualidade. É a chance de poder continuar
ensinando, organizando conteúdos que farão a diferença na vida dos alunos que
estão sob nossa responsabilidade. Utopia?...Talvez, mas é delicioso sonhar. Por
isso, como disse Gandhi em suas lições de vida, "a verdadeira educação
consiste em pôr a descoberto ou fazer atualizar o melhor de uma pessoa. Que
livro melhor que o livro da humanidade?" Não percamos a chance de
valorizar nossa missão de ensinar. Não percamos o foco nem a nossa fé. Somos
PROFESSORES e nunca desistimos.
Sejamos fortes,
sejamos corajosos, sejamos resiliente, sejamos unidos e nos fortaleceremos
ainda mais.
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