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Planeta Sustentável

segunda-feira, 27 de maio de 2024

Metas para a aprendizagem nas escolas paranaenses e o caminho para a privatização.


 O estabelecimento de metas para a educação paranaense tem  causado muito  desconforto para os professores quanto ao trabalho pedagógico nas salas de aula.

Como um instrumento fiscalizador, o sistema Power BI em sintonia com o LRCO(Livro de Registro de Chamada Online), indica o índice de frequência, informações individuais de alunos e turmas, aulas dadas, amparos legais e matriz curricular de cada instituição em tempo real. Desse modo, quando o índice está abaixo do esperado (95,00%) as instituições são comunicadas de que estão no "vermelho " e que precisam reverter o  quadro identificado, por meio do Power BI , sendo preciso modificar esse quadro abaixo da média de alguma forma.

Com o objetivo de ficar em primeiro lugar no ranking nacional, o governo estadual propôs em 2023 para os gestores escolares um bônus de R$3.000,00 para quem atingir a meta estabelecida de 100% de frequência dos estudantes na escola, provocando uma competição entre diretores com um sistema de ranking entre as escolas. Conforme o índice apresentado  no BI as metas são estabelecidas pela SEED e cabe ao gestor cumpri-las. Ou seja, números que indiquem o primeiro lugar são  o objetivo e não  a qualidade de ensino, pois o que importa no final é  o fluxo de aprovação de cada instituição. Quanto maior for o índice de aprovação, maior será  o índice do  IDEB, principalmente em ano de avaliação externa.

Essa metodologia de trabalho,  teve início na gestão do secretário estadual Renato Feder em 2019 e mantida pelo atual secretário Roni Miranda.  Uma estratégia que tem incomodado muitos professores e funcionários, apesar de não poderem se manifestar, uma vez que a gestão não  é  democrática como apregoam. Isso fica visível  com a administração  do atual secretário Roni Miranda que  tem se  utilizado  de  uma nova estratégia de ilusão. São os encontros de formação shows em  Foz do Iguaçu. Esses encontros passam a ideia de que a educação paranaense está  muito bem. O local escolhido para o evento é  sempre o melhor e mais caro, facilitando a estratégia para a inclusão de mais metas, numa sutil transformação de gestão escolar pública,  para uma gestão empresarial.

Transformar a  gestão escolar em gestão empresarial pode ser um grande erro que, com certeza, deixará marcas para a educação paranaense.  No entanto,  persistem na ideia e seguem o ritmo da inserção  de plataformas de ensino, tais como: redação Paraná,  inglês Paraná,  Mattifc, Kan Academy, Leia Paraná e Quizz, com a obrigatoriedade , uma vez por semana, de uso e produção  pelos alunos durante as aulas, bem como o  cumprimento de metas de acesso e realização de atividades. Mas, não  pára por aí a desobrigação do governo estadual com a educação geral básica.  Agora, quer implementar a parceria público-privada com empresas especializadas em gestão escolar, indicando que quando um diretor ou diretora não  der conta de cumprir as metas, as empresas especializadas entram com a "parceria", de modo  a realizar um trabalho para melhorar os índices daquela instituição.  Esse programa tem a alcunha de "Parceiros da Escola" com o objetivo  de implementar melhorias na gestão administrativa das instituições, tendo como meta cuidar da infraestrutura,  merenda escolar, uniformes,  recrutamento de funcionários, processos administrativos,etc(SEED, 2024). Ou seja, o patrimônio público nas mãos da iniciativa privada. Entretanto, algumas questões precisam ser respondidas: a quem interessa privatizar as escolas públicas? Somente ao governo estadual ou a um grupo de empresários ambiciosos para adestrarem mão  de obra barata?

Simplificando, esse tipo de estratégia é comumente usada pelos liberais com o objetivo de quebrar, destruir para "construir novamente" um setor ou empresa,  que julgam não corresponder as expectativas de mercado. É  uma distração para conseguir se apossarem do patrimônio público, sem qualquer escrúpulo. Nada mais sutil e estratégico do que sucatear deliberadamente alguns setores para conseguir se apossar dele mais tarde. E não  adianta gritar, esbravejar ou se colocar contra essas ações.  Quem faz isso,  acaba sendo punido com advertências e outras sanções. 

O fato, é  que desde 2016, a educação vem sofrendo ataques que objetivam uma reforma empresarial e o movimento "Todos pela Educação" se apresenta para essa reforma na égide de "Parceiros da Escola ".
Como nos assevera Freitas(2018), o capital financeiro rentista está  por trás dessa genial ideia de vender o patrimônio público. Por isso,  não  se iludam com as propagandas do governo estadual, pois o objetivo desse governo é pôr em prática a política do Estado mínimo como desejam seus parceiros e financiadores.

Para a educação essa ideia é entendida como vouchers, que amplia a segregação social, pois baseia-se na ideia de que" os pais têm o direito democrático de escolher onde seus filhos devem estudar". Essa é  uma proposta da nova direita que vem sendo implementada desde 2008 com uma série de reformas que desestruturam a luta dos trabalhadores.  Quem não  se lembra das bombas pra cima dos professores em frente da assembleia legislativa em Curitiba, em 2015? Desestruturar uma classe que forma cidadãos e ensina a pensar era o objetivo principal desse ataque.

Conforme nos aponta Freitas em seus escritos, "Ao eliminar direitos sociais,  transformando-os em "serviços a serem adquiridos ", o neoliberalismo derruba a proteção social, que tornou o trabalhador mais exigente(e mais caro) frente ao empresário." (FREITAS, p.24, 2018).

Uma coisa é certa, a apropriação do bem público pela iniciativa privada  mesmo tendo o disfarce de "Parceiros da Escola",  busca  transformar direitos sociais em serviços a serem adquiridos (Chaui, 2017), legitimando a desestruturação dos movimentos sociais que lutam pelos direitos humanos e que, por vezes, têm seu início na escola.

O desprezo pela educação pública do atual governo paranaense, bem como pelos profissionais que nela trabalham, está destruindo aos poucos a qualidade do trabalho pedagógico por meio de uma política de desqualificação e má remuneração salarial, perda de direitos,  precarização da infraestrutura das escolas e a terceirização de serviços técnicos de apoio. Portanto,  a meta é  privatizar para reduzir a parcela do Estado na obrigação de ofertar escola gratuita e de qualidade pra todos. Está  em curso a reforma empresarial da educação paranaense.


Referências

CHAUI, Marilena. O retrato de uma catástrofe. Entrevista Jornalistas Livres: Acesso em: Maio/2024 Disponível em: https://www.facebook.com/share/v/Zgb8dnKqeuUWkoDq/?mibextid=oFDknk

FREITAS, Luiz Carlos de. A reforma empresarial da educação. Nova direita,  velhas ideias. 1° Ed. Expressão Popular, São Paulo, 2018.

SEED, Portal dia a dia educação- https://www.paranaeducacao.pr.gov.br/Pagina/Parceiro-da-Escola; ACESSO em: Maio/2924

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